segunda-feira, 2 de maio de 2011

Afinal existe pobreza

Algum tempo atrás pude ver uma notícia sobre entrega de casas por parte da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago às famílias em Porto Mosquito, onde uma beneficiada disse “ami nunka n’ka anda na azuleju, hoji n’ta xinta na sanita”. Estava ela a referir-se do “luxo” que a câmara lhe entregara. Na altura achei isto uma autêntica comédia. Sempre que esta câmara faz qualquer coisa nas localidades do município, as entrevistas às populações são sempre casos de risos.


Mas desta última vez foi ao contrário. Eram 22h e qualquer coisa (hora de Londres), estava eu sentado na biblioteca da London School of Economics, à frente de algumas pessoas, com alguma variedade de nacionalidade, e tinha aberto o site da RTC e, encontrava-me a ver o Jornal Nacional. De repente aparece a notícia sobre a entrega de casas em Pico Leão, mais uma vez pela CMRGS.


Sem conseguir conter as lágrimas, os que estavam à minha frente não deixaram de ver-me a enxugá-las. Devem ter pensado, um homem preto afinal também chora. Mas afinal o que causou esta situação? Uma simples entrevista. Uma senhora já de idade descreve a situação em que se encontrava a sua casa. Diariamente preocupava-se com o derrocar do tecto mesmo durante o sono. Quando chove, não tem por onde ir, porque tudo e por todo o lado fica encharcado. Não pude ficar indiferente perante esta situação. A emoção do falar desta senhora levou-me a ver que afinal existe pobreza no meu país para além da minha imaginação. E pior é que ela está bem perto de mim.


Os políticos fazem-nos crer que está tudo bem, alguns exaltam que somos um país de rendimento médio, mas eu pergunto onde está a mediana, e a que distância fica dos cantos? Será que esta entrevista também comoveu os responsáveis políticos? Será que ainda não chegou a hora de vermos a real situação do país e trabalharmos como deve ser? Será que essas pessoas não têm o direito de sentir o que realmente é rendimento médio?


Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, apenas vos suplico que continuem a trabalhar para a dignidade das famílias deste município, e as outras câmaras que façam o mesmo nos seus municípios. Ao Governo apenas suplico que não deixe as câmaras sozinhas.


Gilson Pina

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