terça-feira, 8 de setembro de 2009

DE FACTO O DIPLOMA DOS MENOS FAVORECIDOS NÃO VALE NADA

A Coluna de Gilson Pina

De facto o Governo sabe que concedeu um conjunto de vagas para o estudo no estrangeiro. O que o Governo não sabe é se realmente a vaga foi utilizada. O que o Governo não sabe é se esta vaga teve evolução ou não no ensino. Se o estudante que tomou a vaga ainda está a estudar ou já abandonou os estudos, dada a elevada dificuldade com que se depara. Se o estudante já terminou e optou por ficar no país de acolhimento, porque está a procura de mais vantagens na evolução da sua carreira profissional

As políticas de educação têm vindo a serem cada vez mais atacadas pelos governantes nacionais, no sentindo de aumentar o capital humano do país e consequentemente diminuir o elevado nível do abandono escolar. Embora essas políticas têm vindo a demonstrar um conjunto de fragilidades, não deixam de produzir os seus frutos.
Segundo dados anunciados pelo Governo, Cabo Verde possui cerca de 15 mil estudantes no ensino superior, sendo uma boa parte a frequentar as universidades no estrangeiro. Um valor que expressa algum resultado positivo obtido, mas contestado por alguns que acham este valor um pouco elevado tendo em conta a capacidade do país.

Sem entrar em questão de saber se Cabo Verde tem “doutores” a mais ou não, antes de mais salienta-se o facto de que existe uma grande parte dos que estão a tentar ser “doutores” no exterior que são esquecidos ou até abandonados pelo Governo. Trata-se dos estudantes que vão estudar no exterior por conta própria, tantos filhos dos mais favorecidos como dos menos favorecidos. Sem dúvida alguma de que estes últimos encontram sempre maior dificuldade, sobretudo financeira.

O valor anunciado pelo Governo pode estar completamente (sobre) subavaliado. De facto o Governo sabe que concedeu um conjunto de vagas para o estudo no estrangeiro. O que o Governo não sabe é se realmente a vaga foi utilizada. O que o Governo não sabe é se esta vaga teve evolução ou não no ensino. Se o estudante que tomou a vaga ainda está a estudar ou já abandonou os estudos, dada a elevada dificuldade com que se depara. Se o estudante já terminou e optou por ficar no país de acolhimento, porque está a procura de mais vantagens na evolução da sua carreira profissional.

O Governo pensa que não é da sua responsabilidade acompanhar a evolução destes estudantes. O mais embaraçoso ainda é eles reconhecerem de que não têm qualquer controlo sobre estes estudantes e não fazerem nada para o ter. Devia o Governo elaborar um inquérito junto destes estudantes no sentido de apurar a real situação vivida por eles. Pode-se pensar no custo da realização destes inquéritos, mas em parceria com associações de estudantes este custo praticamente não existirá.

Não se pretende com isso infirmar que o Governo deve apurar a situação destes estudantes para ajudá-los financeiramente, mas sim mantê-los informados sobre a situação do país, criar parcerias que ajudam a facilitar a resolução de alguns problemas que vão surgindo, e entre outras vantagens que podem advir destas parcerias. Acompanhamento esse que influenciará o regresso destes estudantes após terminarem os estudos.

Mudando de assunto, focando uma das outras fragilidades da política da educação em Cabo Verde, pode-se analisar a questão do curso profissional que tem vindo a ser uma grande aposta desta política. Tanto o Governo como as autarquias locais, durante os últimos anos têm enviado inúmeros estudantes para o exterior no sentido de obter o curso médio. Uma política de louvar e aplaudir, pois tem beneficiado vários estudantes, na sua maioria filhos dos menos favorecidos, que doutra forma não teriam a possibilidade de entrar para uma universidade.

A falha está em como esta política está a ser levado a cabo. Filhos dos menos favorecidos, autarquias e Governo a apoiarem e financiarem o curso médio e o diploma do 12º ano de escolaridade são três coisas que não estão a serem bem empregues. Após concluir o 12º ano de escolaridade, os pais não têm como financiar os seus estudos e a solução é mandá-los seguir para o curso médio, sendo as autarquias e o Governo a responsabilizarem pelas despesas na maioria dos casos.

São precisos três anos para completar o curso médio. Com o novo plano de ensino na União Europeia são precisos também três anos para obter uma licenciatura. O mesmo tempo para obter duas coisas completamente diferentes. A exigência do novo plano de ensino é muito elevada, nada comparada com o plano antigo, mas trata-se apenas de aumentar os esforços e a dedicação. Agora, o que não ficou expresso atrás é que os três anos para obter o curso médio, e a após a obtenção do curso, este será equiparado ao diploma do 12º ano de escolaridade.
Apanhar um filho de menos favorecido com 12º ano de escolaridade e enviá-lo para o exterior para obter novamente o 12º ano quer dizer que “de facto, o diploma do 12º ano dos menos favorecidos não vale nada”.

Aos governantes não vai nenhuma opinião como solução, mas a estes que vão com 12º ano para fazer o curso médio no exterior devem aceitar o curso, porém quando chegarem no país de acolhimento (se for Portugal têm de fazer um exame nacional) devem tentar entrar numa universidade pública e dar valor ao tempo dispendido para obter o 12º ano de escolaridade.

Gilson Pina – Mestre em Economia

Sem comentários:

Debates/Comentários

CONTACTE-NOS