segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PAÍSES AFRICANOS ESTÃO A FINANCIAR OS PAÍSES RICOS PARA SAÍREM DA CRISE

Com a recente crise financeira, que quase levou o mundo à uma calamidade total, diversos assuntos relacionados com a economia começaram a ser levados para mesa para uma melhor discussão. Uns questionando a necessidade e a importância de uma melhor regulamentação económica e financeira, outros salientando as fragilidades que devem ser corrigidas da globalização financeira, e ainda outros a chamarem a atenção para lições que se devem tirar com esta crise, no sentido de não voltarem a cair na mesma situação novamente.

De todas estas preocupações a ter em conta para a saída da crise e uma recuperação económica, ainda existem duas importantes questões a reter: o papel dos BRIC’s (os quatro principais países emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia e China), sobretudo da China e da Índia, na nova potência mundial, e a oportunidade para a condução de um desenvolvimento “real” sustentável. Sobre a questão do papel dos BRIC’s há muito que se lhe diga e as opiniões, embora tende para uma certa convergência, deixam ainda muitas discussões em aberto. Mas o que se pretende salientar neste artigo é a segunda questão, da oportunidade que os países devem tirar desta crise para um desenvolvimento sem precedente e sustentável, focando apenas a região africana.

Antes da crise o mundo vivia sobretudo pelos mercados financeiros e quantias imaginárias. Agora, depois de a crise ter abalado o mundo financeiro, as atenções estão voltadas para uma recuperação da economia no seu todo, que passa para a localização dos recursos que levam a atingir este objectivo. É aqui que entra o papel da África na ajuda à recuperação dos países mais desenvolvidos.

No mundo desenvolvido praticamente que os recursos naturais, sobretudo, estão já esgotados, razão pela qual estão a perder algum terreno face aos BRIC’s. Com falta de recursos é preciso ir à fonte para um novo reabastecimento. A maioria das indicações aponta rumo à África.

Agora o continente africano tem a oportunidade de levar a cabo dois objectivos completamente conciliáveis. A África teve, tem e sempre terá recursos se souber geri-los de forma sustentável e ao mesmo tempo conduzi-los para a promoção do desenvolvimento do continente e a retoma na economia do mundo desenvolvido.

Uma das estratégias do mundo desenvolvido para fidelizar a fonte de recursos é criar um acordo com os governos locais, financiando alguns projectos com impacto apenas a curto prazo na maioria dos casos, e depois obter a concessão para um período a médio/longo prazo, saindo deste modo sempre a vencer.

Neste jogo a política é posto sobre a mesa. Os governantes desses países para apresentar um pouco de trabalho feito à população e sem pensar num benefício a nível geral, e mesmo no desenvolvimento concreto, expõem os seus países à exploração pelos países mais desenvolvidos. Foi isto que aconteceu e é isto que está acontecer em grande parte
dos países em África. Os governantes não estão a saber aproveitar o trunfo que a África tem na manga para conduzir a um desenvolvimento sustentável.

Cabo Verde não foge a esta oportunidade. Dada a independência do país nas políticas internacionais, e a sua localização geográfica e económica, serve como uma grande ponte de ligação da África com o mundo desenvolvido. Mas, infelizmente os governantes deste país dão prioridade a questões políticas em relação aos problemas do país. Como se tem observado, os interesses dos grandes países têm-se aumentado cada vez mais, pelo que deve-se aproveitar esta oportunidade e reconduzir um país que apresenta ainda muitas fragilidades rumo ao desenvolvimento.

Entretanto, para que Cabo Verde ou mesmo a África em geral consiga atingir estes objectivos é preciso ter governantes que pensem no progresso dos seus países e não apenas nos seus progressos políticos. Eles têm de aproveitar esta oportunidade e não ficarem apenas como uns meros financiadores da “possível” retoma económica do mundo desenvolvido. Devem analisar os acordos numa perspectiva a longo prazo e que tragam benefícios a toda população. Ignorando estes passos a África estará condenado para sempre ao fracasso e ao subdesenvolvimento. Por outro lado, aproveitando as vantagens desta crise, eliminando o conflito no continente e renovando as más elites que têm assombrando a governação deste continente, em pouco tempo a África verá o progresso tanto a nível económico como a nível social.

Gilson Pina – Mestre em Economia

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