segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

RESPOSTA A CARLOS CARVALHO


Meu caro Carlos Carvalho


Lendo o e-mail que tem estado a enviar para diversas pessoas e entidades a propósito das investigações feitas na Cidade Velha por arqueólogos da Universidade de Cambridge, congratulo-me: de facto, você dá-me a oportunidade de pôr os pontos nos iii em muita coisa que, há muito, requer ser desmistificada. De resto, como você próprio diz, "as informações devem ser transmitidas da forma o mais correcta possível, para evitar mal entendidos".

Então vamos aos factos e às memórias que, pelos vistos, andam "um pouco" perturbadas por aí.

Terei que lhe recordar, meu caro, que os arqueólogos britânicos vieram à Cidade Velha pela mão da Universidade Piaget (que o IIPC tem tido o desplante de querer omitir em todos este processo, ao ponto de querer afastar da Cidade Velha o prof. Konstantin, já pelo IIPC marginalizado de todo este projecto)? Que os referidos arqueólogos se confrontaram então com as portas fechadas do IIPC e do Ministério da Cultura, que nem sequer os receberam, e só descobriram a sua existência quando se aperceberam dos resultados (e sua importância) da investigação então feita?

Terei que lhe recordar que a quase totalidade do espólio dessas primeiras investigações, se encontra armazenado (embora catalogado) nas caves do Centro Cultural Português, à espera que alguém os vá buscar?

Terei que lhe recordar que as valas abertas para as tubagens de água e saneamento na Cidade Velha tiveram um mais que deficiente acompanhamento por parte do IIPC e que foi a própria Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago que, face ao descaso tido pelo IIPC, contactou o Professor Konstantin (da UNIPiaget), chamando-lhe a atenção para o que se estava a achar? E que foi o Professor Konstantin quem, de imediato, contactou os arqueólogos da Universidade de Cambrige?

Terei que lhe recordar que, face aos achados, o chamei a si ao meu Gabinete, onde veio na companhia de Martinho de Brito, e lhe falei então na necessidade de ouvir os arqueólogos de Cambridge e que VOCÊ MESMO a isso se opôs, considerando que tal era uma "desconfiança" para com os técnicos do IIPC?

Terei que lhe recordar que, depois de longa discussão entre nós, lhe propus que recorrêssemos a uma terceira opinião (de desempate) e que só então você concordou com a presença desses arqueólogos?

Terei que lhe recordar que, perante o descaso do IIPC, fui eu próprio que assumi a decisão, a responsabilidade e o preço político de manter as valas abertas durante quatro semanas para que se pudesse fazer a recolha e registo dos materiais? E que, apesar dos naturais incómodos que as valas abertas causavam à população, e apesar das insistências da Câmara, o IIPC (o Ministério da Cultura, o Governo) se recusaram a sensibilizar a população para a importância destes achados, aproveitando o PAICV para os mais despudorados ataques à Câmara?

Terei que lhe recordar que, perante a importância dos achados, foi a Câmara que assumiu o ónus e os custos de alterar o traçado das valas para evitar que os elementos arqueológicos fossem afectados, enquanto o IIPC assobiava para o lado?

Terei que lhe recordar que foi a Câmara Municipal que suportou os custos (encargos) de tudo isto, uma vez que o IIPC e o Governo se recusaram a comparticipar?

Terei que lhe recordar que foi a Câmara Municipal quem, abordada pelos arqueólogos da Universidade de Cambridge, autorizou a abertura das trincheiras que estão agora à vista?

Quando leio o seu desplante em frases como "As últimas vindas dos arqueólogos foram todas em concertação com o IIPC", "A vinda dos arqueólogos aquando das escavações das valas para água e saneamento foram também concertadas com o IIPC", concluo que você, Carlos Carvalho, além de sofrer de falta de memória, perdeu a noção do pudor e da responsabilidade.

Face a tudo isto, digo-lhe: chega! Já basta o que de muito mau tem vindo a acontecer neste processo do Património Mundial, onde você tem sido um parceiro menor e quase sempre prejudicial, acabando por querer marginalizar aqueles que, como Charles Akibodé, foram verdadeiros protagonistas de algo que honra Cabo Verde. Há muito que você atingiu o "princípio de Peter" - não abuse.

Tomo para mim, e relativas a si, as últimas palavras neste seu e.mail: "No quadro das boas relações existentes entre nossas duas instituições, muito agradecia que se repusesse as verdades em relação a todos esses projectos, para que o clima continue no espírito de Sevilha que cultivamos todos" .

Meus melhores cumprimentos.

Manuel Monteiro de Pina


Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago

(http://www.expressodasilhas.sapo.cv/)

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